O salto alto é um artigo indispensável no guarda-roupas feminino. É como uma regra escondida no reino da moda. A palavra chave é moda e não necessariamente a função. As mulheres suportam o desconforto (ou seja, a falta de função) para colher os benefícios da aparência (moda, por exemplo). Os efeitos nocivos dos saltos altos são constantemente verificados por cirurgiões ortopédicos e fisioterapeutas. O consenso geral é que existem perigos que estão associados ao uso de sapatos de salto alto. Felizmente, existem maneiras de evitar certos perigos e consequências advindos de sua utilização.
O salto alto teria sido criado durante o reinado de Luís XIV, que cuidava para que sua imagem pessoal refletisse poder em todos os detalhes. O salto alto foi criado para realçar as pernas do rei e deixá-las mais delgadas, o estilista da corte desenhou sapatos com uma elevação nos calcanhares. Estava inventado o salto alto!
Sem dúvida o salto alto tem suas vantagens em termos de moda. O próprio fato deles poderem aumentar a atratividade de uma mulher. O salto alto pode aparenta-la ter:
- panturrilhas ("batatas" das pernas) mais firmes e pronunciadas
- músculos das pernas mais definidos;
- as pernas mais longas;
- glúteos com aparência mais arredondada e mais pronunciados;
- pés que pareçam menores;
- mais altura;
- andar sedutor;
- postura mais ereta e esguia.
Quanto mais alto o salto, maior serão essas vantagens, mas ao mesmo tempo os riscos vão aumentar.
De acordo com os últimos estudos realizados pela ciência, a mulher que usa rotineiramente calçado de salto alto – como os da maioria das coleções mais desejadas – pode pagar um preço alto demais.
Uma das pesquisas a confirmar isso foi publicada no “Journal of Experimental Biology” e conduzida por Marco Narici, da Manchester Metropolitan University, na Inglaterra, e Robert Csapo, da Universidade de Viena, na Áustria, o trabalho mostrou que a utilização por período prolongado de salto alto provoca modificações em músculos e tendões. Após analisarem as estruturas ósseas e musculares de 11 mulheres que relataram usar salto de pelo menos cinco centímetros durante dois anos ou mais, cinco dias da semana, os pesquisadores verificaram um encurtamento das fibras dos músculos da panturrilha. “Elas eram 13% menores do que as das mulheres que não usam esse tipo de sapato”. Além disso, eles observaram que os chamados tendões de Aquiles, que conectam o osso do calcanhar ao músculo da panturrilha, estavam maiores do que o normal.
Ao longo do tempo, os saltos muito altos mudam a conformação dos pés, porque alteram a maneira como as mulheres pisam. Ao se equilibrar, a concentração do peso fica restrita aos dedos. Há, ainda, dificuldade na flexão da planta do pé – o que prejudica a circulação e potencializa a tendência a varizes. Além disso, o salto altera a musculatura da perna, tornando os músculos mais curtos na parte posterior e mais longos na parte anterior. Muita gente já deve ter ouvido queixas de mulheres que afirmam que usam sempre salto alto e não sentem desconforto, mas quando trocam o calçado por modelos sem salto ou tênis, sentem dores na panturrilha (também chamada de batata da perna) e nos pés – sinais clássicos do encurtamento do tendão de Aquiles. Dores no joelho, no arco anterior dos pés, joanetes, calos, tendinites, unhas encravadas e danos à coluna, como lordose, são outros problemas ortopédicos causados pelo salto alto.
O sangue chega às pernas pelas artérias e volta pelas veias, como se fossem duas ruas de mão única, uma vai, outra vem. Esse fenômeno, chamado de retorno venoso, é fundamental na circulação. A origem da maioria das doenças venosas é a sobrecarga ou a desorganização deste circuito, por exemplo, permitindo que a veia funcione como uma rua de mão dupla ou que haja grande volume residual de sangue, comprometendo a função hemodinâmica do sistema venoso, ou seja, o fluxo sanguíneo nas veias.
O uso do salto alto, segundo dados da pesquisa do médico Wagner Tedeschi Filho, impede que o tornozelo trabalhe em seu ângulo ideal. Isso limita a articulação e leva a um encurtamento do curso de trabalho da panturrilha. “A panturrilha não contraindo de forma ideal acaba por bombear mal o sangue e há uma queda na fração de ejeção de sangue, ou seja, sobra mais sangue na perna, o chamado volume residual venoso. Esse resíduo pode provocar hipertensão venosa nos membros inferiores, dando origem a varizes e outras doenças venosas”, afirma Tedeschi Filho.
Os Perigos
Os Pés:
Quando uma mulher anda de salto, ela basicamente anda na ponta dos pés. A sola do pé, na região bem próxima dos dedos, vai experimentar uma intensa pressão, e esta pressão mais do que duplica com cada centímetro de altura do salto do sapato. As lesões no tornozelo são sempre uma ameaça e o grau das lesões pode se estender de entorses às fraturas. Calosidades e joanetes podem ser formados nos pés devido ao salto alto, especialmente se os sapatos estão apertados, desconfortáveis ou se utilizados por longos períodos.
Metatarsalgia é uma doença que afeta a sola do pé, logo após os dedos, onde todo o peso está concentrado quando uma mulher está de salto. Dedos em martelo (hammertoes) é uma condição onde os dedos são mantidos para baixo enrolados por causa do confinamento contínuo dos pés nos saltos altos. Os músculos dos pés tornam-se rígidos e incapazes de se esticar e endireitar quando fora dos sapatos.
As mulheres podem se queixar de dormência, dor aguda e ardor nos dedos e sola do pé quando se usam sapatos de salto alto - todos são sintomas do neuroma de Morton. Neuroma de Morton é a inflamação do tecido que envolve o nervo entre a 3 ª e 4 ª dedo.
Joelhos:
O salto alto causa muita pressão sobre os joelhos. A força que faz com que a pressão exercida seja maior do que as forças que os joelhos foram concebidos para receber, pode dar origem a uma condição chamada de osteoartrite (inflamação e desgaste das estruturas da articulação).
Postura:
Considere que, quando você se inclina para frente você leva todo o seu peso a ser projetado para a sola de seus pés, logo após os dedos. Você involuntariamente ajusta sua postura para compensar a mudança de seu centro de gravidade. Esta é uma ocorrência semelhante ao uso do salto alto, e vai ser pior, porque os pés estarão em uma posição fixa. Uma mulher vai ter que dobrar para trás mais a espinha na região lombar (extensão do tronco) para manter seu equilíbrio (hiperlordose). Os saltos altos são uma das causas de dor lombar e torácica!
As Pernas:
As panturrilhas (batatas das pernas) tendem a manter o estado contraído e encurtado devido aos pés estarem em saltos altos (flexão plantar). Os músculos da panturrilha podem se tornar difíceis ou praticamente impossíveis de corrigir sem intervenção médica e/ou fisioterápica. Uma condição similar pode ocorrer com o tendão de Aquiles, onde ele também pode reter o estado de encurtamento (encurtamento crônico, também conhecido como retração), mesmo quando não está se usando sapatos de salto.
Um estudo da Sociedade Americana de Ortopedia aponta o salto alto como o vilão responsável pelo gasto de cerca de US$ 3 bilhões anuais com cirurgias nos pés.
Os especialistas, porém, não pretendem fazer com que as mulheres desistam desses modelos – até porque certamente seria uma tarefa fadada ao fracasso. Por isso, preferem orientar. “Elas ficam bonitas e sentem-se bem calçando esses saltos”, afirmou Narici. “Mas podem tomar algumas precauções, como fazer alongamentos na região no final do dia”, aconselhou o pesquisador inglês. Também é possível ter cuidado na hora da escolha do modelo. “Saltos largos são mais indicados”, diz Antonio Egydio de Carvalho Jr., do Instituto de Ortopedia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
A importância deste membro que nos agüenta o dia inteiro:
Segundo o angiologista Luiz Negreiros, do Hospital das Clínicas, os pés têm importância fundamental na circulação de retorno corpórea, pois eles agem como uma esponja e levam o sangue para cima, de volta ao coração. “Os cuidados com os pés são vitais para o bom funcionamento das veias e artérias”, diz o angiologista. Os pés ainda são, de acordo com o especialista, mais propensos a artereopatias (traumatismos), pois ali, uma extremidade do corpo, se concentra um grande número de artérias e veias. “Pessoas diabéticas precisam de muito cuidado no trato dos pés, pois o nível de sensibilidade a cortes e ferimentos é muito baixo. Qualquer tipo de traumatismo no local pode levar a uma isquemia e até a uma necrose”, explica Negreiros.
O que é unanimidade nesse debate é que dificilmente as mulheres vão abrir mão desse acessório que é símbolo de feminilidade – e não importa o quanto elas saibam a respeito dos efeitos nocivos dos saltos altos para a saúde. O Dr. Fabio Ravaglia - Instituto Ortopedia & Saúde - afirma : "Diante dessa constatação, me resignei e reuni cinco dicas básicas para diminuir esses riscos e minimizar o impacto negativo.
- Alternar a altura do salto:
Se em um dia você usou um salto muito alto, no outro prefira modelos de até quatro centímetros de altura. A prática faz com que a musculatura fique em um estágio intermediário. Pode parecer uma dica de moda, mas o fato é que o mesmo modelo (ou salto) não deve ser usado durante muitos dias para preservar a musculatura e as articulações dos pés e pernas.
- Modelos alternativos:
Compre modelos com o bico e salto quadrado, que oferecem mais estabilidade e conforto. As plataformas – mais indicadas pelos ortopedistas – também são recomendadas porque distribuem melhor o peso por toda a extensão da sola.
- Sapatos baixos (tênis) para dirigir e andar a pé:
Crie um novo hábito. Mantenha no carro um modelo confortável e sem salto – tênis são bons exemplos – para dirigir. As mulheres que utilizam o transporte público, podem adotar o mesmo procedimento. Quando chegar ao trabalho troque pelo modelo de salto alto, como no filme "Uma secretária de futuro" - Working Girl de 1988, aonde a personagem vivida por Melanie Griffith.
- Massagear os pés:
A massagem nos pés, ao final do dia, ajuda a restabelecer a circulação e funciona como uma prevenção a cãibras e dores musculares. Após a massagem, coloque as pernas para cima por alguns minutos.
- Alongar a panturrillha:
Um dos efeitos de saltos muito altos é o processo de encurtamento da panturrilha. Para prevenir esse impacto negativo, transforme o alongamento da panturrilha em um hábito diário. Ao chegar em casa, no final do dia, utilize um degrau para realizar um exercício simples e que ajuda a manter uma boa circulação do sangue no local: coloque metade do pé sobre o degrau e force a outra metade para baixo, com suavidade, sem dor, 2 vezes cada pé, mantendo a posição por 20 segundos. Depois, faça movimentos circulares com os pés, 10 vezes para o lado esquerdo e direito.
Algumas dicas de presente para vocês:
Escolha o conforto, em vez de estilo ou moda. Isso deve ser regra de seleção de sapatos. Prefira os sapatos pela forma como eles se encaixam, não pelo tamanho marcado na caixa, tamanhos de calçados variam pelo tipo e estilo;
O tamanho do pé aumenta com a idade;
Evite os de bico fino ou afilado;
Compre-os no final do dia, quando seus pés estão mais "inchados";
Sempre experimente ambos os sapatos e dê alguns passos para se certificar que eles são confortáveis;
Quando calçá-los, mexa os dedos para garantir que podem mover-se;
Tenha em mente este princípio fundamental: o sapato deve se adaptar à forma do seu pé. Seus pés nunca devem se adaptar à forma de seus sapatos.
Dê passos menores de salto alto, apóie seu calcanhar primeiro para minimizar os danos aos pés;
Evite usar sandálias abertas de salto alto por qualquer período de tempo, porque aumentam muito a tensão dos músculos. Uma tira ou rendas sobre o peito do pé vão permitir que os pés deslizem para frente;
Ao final do dia, trate seus pés com carinho, e, depois do alongamento e auto-massagem você pode fazer um banho de imersão para eles;
Vale a pena dedicar um pouco de atenção que não consumirá mais do que 20 minutos no total em comparação com as longas horas de tortura impostas a seus pés, concorda?
Por último, se você sofre a dor nos pés ou tornozelos, consulte um médico. Os problemas dos pés são mais difíceis de tratar uma vez que eles se tornem crônicos e podem comprometer todo o corpo
Muito boa esta matéria, achei importante estas dicas!
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