domingo, 1 de maio de 2011

Perder peso não é sinônimo de saúde!


Por: Antônio Herbert Lancha Jr.

A maior preocupação dos pesquisadores quando se fala em perda de gordura corporal atualmente é com a busca desesperada — e muitas vezes inconseqüente — pelo corpo perfeito, estar magro ou magra. Há alguns anos, nos Estados Unidos, uma pesquisa publicada na revista científica Cel afirmava ter encontrado a pílula do exercício. Ao administrar uma droga para ratos, os animais emagreceram e mostraram alguma melhora em parâmetros como colesterol, sem fazer exercícios físicos e sem alterar a dieta. Esta droga surgiu então como a “pílula do exercício”. Quem “não tem tempo” não precisaria mudar os hábitos de vida, bastava tomar esse medicamento.

Outros pesquisadores passaram a estudar essa droga, avaliando a possibilidade de ela vir a ser um medicamento comercializado em farmácias. No entanto, a lista de benefícios proveniente da prática regular de atividade física jamais poderá ser alcançada por um medicamento. Não podemos esquecer que exercício não traz apenas benefícios físicos e no perfil bioquímico do sangue. É responsável também por melhoras nos âmbitos social e emocional. Obviamente que a tal droga não só não foi aprovada pelo FDA (órgão que controla comercialização de medicamentos nos EUA), como tem sido alvo de severas críticas no meio da medicina esportiva. De fato, o que faz com que esse tipo de estudo e de proposta surja é a busca incessante por baixa quantidade de gordura corporal, curvas perfeitas, músculos definidos... Aspectos que vão muito além da busca pela saúde e pela qualidade de vida.

Em outra mesa de discussões, diversos dados foram apresentados questionando a abordagem que vem sendo dada ao tratamento da obesidade e na busca pela perda de peso — que, muitas vezes, não significa perda de gordura corporal, mas sim de massa magra. Há décadas, tenta-se emagrecer os obesos e as pessoas com sobrepeso para que eles fiquem saudáveis, e pelo tanto que a obesidade reduziu (absolutamente não reduziu...) talvez esteja na hora de mudar essa abordagem. Em vez de tentar emagrecer essas pessoas, poderíamos deixá-las saudáveis mesmo acima do peso.

Nesse momento, vários estudos foram apresentados mostrando que indivíduos obesos ou acima do peso que fazem atividade física regularmente, que comem frutas, verduras, cereais integrais, possuem o mesmo risco de morte por doenças cardiovasculares que indivíduos magros saudáveis. Em alguns casos, o risco de problemas com hipertensão arterial e hipercolesterolemia foi mais alto em indivíduos magros, mas sedentários, sem hábitos saudáveis, do que em pessoas com sobrepeso e ativas. E um dos dados apresentados mais interessantes mostrava vários estudos que comprovaram que variações de peso corporal (o famoso “engorda-emagrece”) são mais prejudiciais para a saúde do que manter-se em sobrepeso ou obeso.

As variações de peso levam a variação de pressão arterial, glicemia, insulinemia, colesterol — todos os parâmetros variam juntamente com a perda e o ganho de peso corporal e está sendo demonstrado que essas variações não são saudáveis. Alguns estudos mostraram que várias tentativas de emagrecer levam a maiores concentrações de grelina, hormônio responsável por induzir a fome. Talvez por isso o “efeito sanfona” ocorra, ocasionando ganho de peso maior do que o total que havia sido perdido. O índice de mortalidade encontrado foi proporcional ao número de tentativas de emagrecer: quanto mais tentativas as pessoas fizeram de emagrecer, maior foi o risco de morte por doenças cardiovasculares.

O que devemos concluir de tudo isso: novamente, não procurar por soluções imediatas. Elas podem ser mais prejudiciais do que permanecer da maneira que estamos, mesmo que acima do peso. Mudar hábitos, introduzir rotinas mais saudáveis, atividade física regular, consumir alimentos mais saudáveis trará benefícios maiores para a saúde do que perder peso de forma rápida e insustentável.

Publicada em: Agosto de 2010
Fonte: Revista

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